Os timorenses têm formas de expressão próprias: umas antigas, transmitidas oralmente de acordo com a tradição étnica, outras reveladas pela escrita. Tentar fazer uma elencagem de escritores e textos timorenses é uma tarefa que não se apresenta fácil, pois as publicações são díspares geográfica e linguisticamente. Além disso, existem possivelmente inúmeros “ textos na gaveta” e só agora, com condições mais favoráveis no território, se vai tornando possível tomar consciência da verdadeira dimensão da literatura Timorense e vê-la desabrochar.
ESCRITORES
Entre os escritores leste timorenses encontramos Fernando Sylvan, poeta, dramaturgo e ensaísta que foi presidente da Sociedade de Língua Portuguesa, Francisco Borja da Costa,
morto durante a invasão indonésia em 1975 e Xanana Gusmão, o líder carismático da resistência Timorense que, em 1993, por ocasião do LX Congresso do Pen Club International, em Santiago de Compostela, foi considerado, pela comissão do clube de apoio aos escritores perseguidos, um dos casos a ser seguido.
Jorge Lauten, José Ramos-Horta, o conhecido diplomata timorense, José Barros Duarte, sacerdote timorense, oriundo de Same, que se evidenciou como escritor político, poeta e antropólogo, Ponte Pedrinha, romancista timorense oriundo de Same e finalmente
Luís Cardoso com dois livros publicados, o primeiro dos quais “Crónica de uma Travessia” traduzido em várias línguas, são outros nomes de vulto na literatura timorense.
Em termos de nomes femininos, referimos dois que integraram a diáspora australiana:Maria Alice Branco, que compôs poemas e peças de teatro para a rádio e para os palcos em três línguas (tétum, português e inglês) e Filomena de Almeida, bióloga, cujos textos são essencialmente de índole política.
Mas outros timorenses na diáspora, talvez menos conhecidos, escreveram histórias, ou traduziram-nas para português e inglês, numa tentativa de divulgar a cultura Timorense. Entre estes, encontramos Cristina Lopes, uma Timorense nascida em Hali-Talas, que narrou belíssimos poemas, usualmente repetidos entre as mulheres da sua aldeia, além de alguns contos tradicionais. Paulo Quintão da Costa, oriundo de Samoro, professor em Timor Leste, que, profundamente envolvido na cultura oral Timorense durante longos anos, foi o responsável pelo fornecimento de imenso material tanto a editores australianos, como portugueses, passando para a escrita lendas da tradição oral Timorense. António e Teresa Oliveira, Luís da Costa, Armindo da Costa Tilman,
Marçal de Andrade, e Albina da Costa, Apolinário Guterres, Francisco Fernandes,
Luís Cardoso de Noronha, e Kay Shaly Rakmabean são apenas alguns nomes entre muitos. Os seus contributos têm um valor enorme, tanto ao nível cientifico como patriótico, uma vez que é através da escrita de um povo que se poderá iniciar a descoberta do seu pensamento, da sua psicologia e da sua vontade colectiva, dos seus anseios, enfim, do «ser Timorense».
Muito do que se tem escrito não pode deixar de reflectir a situação política que o país viveu durante o último quarto do século vinte. Em muitos textos está patente
o sofrimento dos que ficaram na ilha e a angústia dos que integram a diáspora.
Enterrem meu coração no Ramelau, é uma entre as muitas obras que espelham esta situação.
ENTERREM MEU CORAÇÃO NO RAMELAU
A literatura Timorense não pode deixar de ser um reflexo da situação política do território ao mesmo tempo que uma afirmação da sua identidade. A um estado com pulso-de-ferro que lhe chama Timor Timur ou Tim Tim, os Leste Timorenses respondem com um Timor Timorense. A União dos Escritores Angolanos editou, em 1982, Enterrem Meu Coração No Ramelau, que compila alguns poemas de autoria Timorense, fragmentos da tradição oral, ciosamente guardada e passada de geração em geração pelos Lia-Nain (Senhores da Palavra), assim como alguns textos de autores modernos. No total, reúne trabalhos de sete autores, como os que mostramos em baixo:
Corrigenda
Nenhum povo é grande por ter apenas fastos a contar,
Mas pelas liberdades que souber viver
E pelo amor que tiver para dar.
Fernando Sylvan, in Enterrem Meu Coração No Ramelau
Lâminas Nos Pés
O meu galo tem crista vermelha
ágil com lâminas relampejantes
nos pés
Acorda-me a cantar na madrugada
na região amada de Los Palos
Com lâminas relampejantes nos pés
dirijo-me ao centro
da batalha
Jorge Lauten, in Enterrem Meu Coração No Ramelau
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